Se ontem minha manhã foi alegre e repercutiu por todo o dia, hoje minha tarde foi singular mais uma vez, porém por outro enfoque, diametralmente oposto ao anterior. O cenário foi o mesmo, o Comércio. Um dos motes também, a compra da mesa. O outro foi, talvez, o estopim da vergonha, da inexatidão, do não-lugar.
No dia alegre, fiquei sabendo por um telejornal do triste fim que uma capela do século XVII levara – fechada por falta de manutenção estrutural por se tratar de herança familiar. Acabei passando em frente a ela e também me entristeci. Depois passei pelo mesmo lugar e meu triste sentimento foi ressignificado. Na ida, com fones nos ouvidos, me fechei em meu mundo autista e não atentei aos rogos de uma resignada senhora que à porta do templo se encontrava.
Após um longo período, pelo mesmo trajeto passei, já sem os fones, e ouvi dessa vez o clamor daquela simples alma. Imaginei que esmolasse. Não. Trabalhava honrosamente. Vendia revistas e clamava: “Por favor, me ajuda. Compra a minha revista. Eu preciso. Por favor!”. Parei para atender a esse dócil e dorido pedido. Custava R$ 1,00 cada exemplar. Levaria três. Um passante disse: “Tome, senhora. Só pra lhe ajudar”. Reconsiderei minha decisão e fiz algo parecido: “Vou levar dois e a senhora pode ficar com esse outro real”.
Alguns passos adiante e enorme remorso e culpa por algo do qual eu não era diretamente culpado me lacerou. Estava indo ao shopping comprar uns óculos de sol, completamente desnecessários e supérfluos, pois os meus estão em perfeitas condições e inclusive os usava quando do ocorrido (ele é meu xodó e minha necessidade, ou então andaria tateando à luz do sol). Voltei pensando na abordagem a tomar. Precisava ajudar aquela senhora. Mas como? Saber seu nome, onde mora, porque vive daquele jeito – claro, é a necessidade. Será que é aposentada? Vive com alguém? Alguma coisa eu precisava ouvir daquela bela senhora.
Retornei e me deparei com uma tocante cena. Outro passante lhe ofereceu um copo d’água. “A senhora não pode passar o dia todo aí com sede. Alguém tem que olhar pela senhora”, ao que ela respondeu: “Muito obrigado, meu filho”. Abri a carteira e lhe dei uma cédula. “Tome, senhora”. Queria saber de sua vida, mas não pude. Ela me ofereceu um dos sorrisos mais bonitos e sinceros que já vi. Aquilo me desarmou por inteiro. Só consegui lhe dizer: “Que Deus lhe abençoe!”.
Saí dali profundamente constrangido. Como poderia agora comprar qualquer coisa depois de tudo aquilo? As lágrimas escorriam dos meus olhos, e eram escondidas pelos óculos. Fui à loja. Outros estavam reservados. Achei-os detestáveis. “Tens certeza de que eu escolhi esse?”, perguntei ao vendedor. “Absoluta!”, foi sua resposta. “Mas como pode eu ter escolhido ontem e hoje achar um grande lixo?”. Ao entrar em outra loja, comentei com o vendedor do acontecido e ele me disse sabiamente que isso depende diretamente do estado emocional atual. Concordei. Não quis, ou não era cabível – não sei – comentar o real motivo. Até mesmo porque tudo ainda estava muito confuso em minha cabeça. (Está).
Queira Deus pôr aquela iluminada e abençoada senhora em meu caminho.
Mano Diego, infelizmente não podemos resolver o problema de todos, mas sei que tu da o melhor de ti para tentar resolver esses problemas, que Deus te abençoe
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