quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Do que te fora

Quando me convidaste a voltar a ti
Quanta alegria em meu peito raiou

Ao ver-te ante meus olhos
O que de ti fora feito
Espectro do que houveras sido
Doeu-me n’alma

O espírito ora serelepe e faceiro
Fazia-se apequenado
E a feição embrutecida dos olhos teus
Teus olhos
Passavam despercebidas

Despercebidos

Pois teu semblante angelical aos incautos engodava
Porém
Eu
Profundo conhecedor de tua alma jovial
Jovial alma
Não pude reencontrar-te

Terá sido por isso que nos fora dado o afeto
Aquele que permite enternecer por toda a eternidade
Um

Amor puro


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Fastio

Tem uma hora
Que o amor
Cansa

E tu dizes
Basta

É
O Amor
É
Imortal

domingo, 29 de janeiro de 2012

A polissemia do verbo ‘coisar’, o nosso curinga

Coisar. Eu coiso e tu coisas (sic). Égua, por que não? Há muito este inusitado verbo faz as vezes na língua dos lusos e seus descendentes do verbo get na língua inglesa. Registrado na obra Embargo, do célebre escritor português José Saramago, é usado indiscriminadamente quando se tenta alcançar um sentido bloqueado momentaneamente pelo cérebro.

Uma de suas usuárias mais contumazes com os quais convivo é minha querida avó. Percebo que ela se utiliza dele com grande vigor e pelo que recordo, há muitos anos. Não é que ela desconheça o sentido do verbo ou expressão cabível e o utilize como ‘quebra galho’. O que ocorre é que ela processa rapidamente o que pretende comunicar e acredita que seu interlocutor seja sabedor do mesmo sentido por ela pretendido.

Na maioria das vezes, meu irmão e eu nos divertimos com tais situações e as reproduzimos indistintamente entre nós. Quase sempre é possível entender o que ela gostaria de dizer. Difícil mesmo fica quando ela se refere a um tal inatingível ‘negócio do coisa’!!! Nosso pai entende ou aceita muito bem nosso procedimento. Já mamãe, se aborrece com frequência por não dominar e não fazer a menor questão de assimilar este trecho do código entre nós estabelecido. Em todas as vezes – ainda que não se saiba ao certo a finalidade do ‘coisa’ – é sempre uma grande diversão.

Mamãe não alcança a amplidão social desse brilhante verbo, também advérbio, adjetivo, substantivo, pronome. Após adentrar a universidade como aluno de Letras, me detive com maior empenho nessa análise e constatei sua penetração e aceitação cultural e socialmente. Ontem, tive o seguinte diálogo com minha tia:

– Tia, já vi o coisa. Tá tudo coisa.

– Ah, legal! Que bom!

Em uma linguagem formal, a conversa seguiria assim:

– Tia, já vi o fogão. Tá tudo certo.

– Ah, legal! Que bom!

Por haver entendido tudo o que pretendia lhe comunicar, parabenizei-a dizendo:

– Olha tia, a senhora já sabe se comunicar bem. Parabéns!

Bem, como o mote desta “tese” foi minha avozinha, não poderia terminá-la sem contar o mais recente ato de linguagem por ela praticado empregando seu tão estimado hábito linguístico. Fomos hoje cedo à Santa Missa e travamos os seguintes diálogos.

Na ida, uma cachorrinha se aproximou de nós. Fomos brincando com ela até a metade do caminho. Então disse:

– Vó, é melhor a gente não dar confiança, senão ela vai até a Igreja.

– É, eu sei. Ela já até coisa* na minha mão. (*coisa: fuçou, roçou)

Na chegada a casa:

– Olha, que bom que o Ewerton capinou aqui na frente.

– É, vó. Tava na hora...

– É, só que tem que coisar* tudo pra não ficar coisa*. (*coisar: recolher o mato; *coisa: feio, sujo)

E a última da manhã:

– Meu filho, tira esse pano daqui porque é mais coisa* dessa mosca pra esse lado. (*coisa: a mosca estava perturbando a nossa paciência e sujaria o guardanapo).

E dá-lhe coisa!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Imperativo categórico

Se ontem minha manhã foi alegre e repercutiu por todo o dia, hoje minha tarde foi singular mais uma vez, porém por outro enfoque, diametralmente oposto ao anterior. O cenário foi o mesmo, o Comércio. Um dos motes também, a compra da mesa. O outro foi, talvez, o estopim da vergonha, da inexatidão, do não-lugar.

No dia alegre, fiquei sabendo por um telejornal do triste fim que uma capela do século XVII levara – fechada por falta de manutenção estrutural por se tratar de herança familiar. Acabei passando em frente a ela e também me entristeci. Depois passei pelo mesmo lugar e meu triste sentimento foi ressignificado. Na ida, com fones nos ouvidos, me fechei em meu mundo autista e não atentei aos rogos de uma resignada senhora que à porta do templo se encontrava.

Após um longo período, pelo mesmo trajeto passei, já sem os fones, e ouvi dessa vez o clamor daquela simples alma. Imaginei que esmolasse. Não. Trabalhava honrosamente. Vendia revistas e clamava: “Por favor, me ajuda. Compra a minha revista. Eu preciso. Por favor!”. Parei para atender a esse dócil e dorido pedido. Custava R$ 1,00 cada exemplar. Levaria três. Um passante disse: “Tome, senhora. Só pra lhe ajudar”. Reconsiderei minha decisão e fiz algo parecido: “Vou levar dois e a senhora pode ficar com esse outro real”.

Alguns passos adiante e enorme remorso e culpa por algo do qual eu não era diretamente culpado me lacerou. Estava indo ao shopping comprar uns óculos de sol, completamente desnecessários e supérfluos, pois os meus estão em perfeitas condições e inclusive os usava quando do ocorrido (ele é meu xodó e minha necessidade, ou então andaria tateando à luz do sol). Voltei pensando na abordagem a tomar. Precisava ajudar aquela senhora. Mas como? Saber seu nome, onde mora, porque vive daquele jeito – claro, é a necessidade. Será que é aposentada? Vive com alguém? Alguma coisa eu precisava ouvir daquela bela senhora.

Retornei e me deparei com uma tocante cena. Outro passante lhe ofereceu um copo d’água. “A senhora não pode passar o dia todo aí com sede. Alguém tem que olhar pela senhora”, ao que ela respondeu: “Muito obrigado, meu filho”. Abri a carteira e lhe dei uma cédula. “Tome, senhora”. Queria saber de sua vida, mas não pude. Ela me ofereceu um dos sorrisos mais bonitos e sinceros que já vi. Aquilo me desarmou por inteiro. Só consegui lhe dizer: “Que Deus lhe abençoe!”.

Saí dali profundamente constrangido. Como poderia agora comprar qualquer coisa depois de tudo aquilo? As lágrimas escorriam dos meus olhos, e eram escondidas pelos óculos. Fui à loja. Outros estavam reservados. Achei-os detestáveis. “Tens certeza de que eu escolhi esse?”, perguntei ao vendedor. “Absoluta!”, foi sua resposta. “Mas como pode eu ter escolhido ontem e hoje achar um grande lixo?”. Ao entrar em outra loja, comentei com o vendedor do acontecido e ele me disse sabiamente que isso depende diretamente do estado emocional atual. Concordei. Não quis, ou não era cabível – não sei – comentar o real motivo. Até mesmo porque tudo ainda estava muito confuso em minha cabeça. (Está).

Queira Deus pôr aquela iluminada e abençoada senhora em meu caminho.

Dia felizão!

Há um bom tempo que por aqui não apareço. É que hoje meu dia foi muito bom e decidi deixar um pouco de lado os poemas e partir pra prosa (ou melhor, voltar a ela – afinal, foi assim que tudo começou).

Meu dia deveria se iniciar às 7h, mas enrolei e levantei trinta e sete minutos depois, o que me impossibilitou de chegar a tempo à aula de espanhol. Bem, como não mais assistiria minha aula, mas ainda assim precisava ir ao Comércio, decidi levantar e fazer pelo menos a primeira parte do que deveria.

Logo que cheguei à parada de ônibus o peguei. Bom sinal! Ao descer, revi meu querido CEPC da adolescência. Então, entrei na primeira ótica. Depois dessa, mais 14 se juntaram à primeira. Também visitei o ourives. Não entendo como meu anel de formatura inventou de quebrar, mas quebrou... Se fosse de caroço de tucumã, até vá lá, mas o bicho velho é de prata. Fazer o que, né?! Fiquei sabendo que até mesmo aço quebra.

Nesse périplo, encontrei a diva “Leona, Assassina Vingativa” como uma reles mortal, caminhando pelas ruas do Comércio. Parei para admirá-la e ver se era de verdade. E num é que era?! Também precisava comprar uma mesa para cozinha. E haja andança! Comprei sabonetes de argila para dar de presente, um cordão e um pingente. A mesa, não. E se eu comprasse a que mais queria, e logo depois encontrasse uma mais barata? Não, melhor não.

(Ah, parênteses necessários. Quando da compra do cordão e pingente, minha intenção era apenas adquirir o primeiro, mas nada custava levar o segundo. Havia vários de motivos religiosos, porém a vendedora nada sabia informar... Comecei a lhe dizer de muitos que eu sabia. E ela: “Peraí, que tu já vai me dizer de um por um, que eu também não sei e eu vou anotar tudinho”. “Tá”, respondi. “Olha, essa aqui é Nossa Senhora da Rosa Mística. Essa, Nossa Senhora de Fátima. Essa outra aqui, Santa Rita. Esse aqui é São Francisco Xavier”. “Tu sabe de tudo isso porque tu é dessa religião, né?!”. “Sim, sou católico!”. Saí da loja rindo, de contente e do inesperado, daquela situação.)

Bem, pelo menos os óculos foram encomendados. Da mais alta qualidade – lentes fotossensíveis e antirreflexo (as marcas mais famosas e de referência)! E o melhor: com uma economia de mais de 60% entre os opostos. Parei brevemente em uma Igreja. Ainda preciso me confessar. Alegria nenhuma é completa quando a alma encontra-se atordoada. O padre estava conversando. Tremi um pouco e refuguei. “Depois eu volto”.

Por essas simplórias palavras não consigo expressar a alegria que senti nessa manhã. Contudo, escrever ajuda-me a rememorar uma simples e bem vivida etapa do meu dia, da minha vida. Ser feliz, olha aí, é fácil!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pútrido Espólio

De ti?
Compadeço-me

Alimentas-te do meu opróbrio

Mas se é tudo o que tens
Como poderias maldizer-te

Voraz foste
Voraz te veio o escárnio

Sabes bem do que te ladeia
Preferes suplantar a verdade?

De ti!
Compadeço-me

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Do Tudo Muito

Te ter ao lado
Quis por muito
Tive
Perdi
Encontrei
Esvaiu-se

Corri
Parei
Esperei
Deixei
Surgiu

Vivi
Ilusões
Subterfúgios
Recusas
Pudores
Ilusões
Perdões
Decepções
Perdões
Alegria
Outrora
Alegria
Alegria
Muita
Os pés no chão
Constituíram
Por sempre
Minha serenidade
Minha integridade
Desvairado

Mantive-me em mim
Ousadia
ou...

Dói-me
Nada doer

Degeneração sentimental

Por favor, tesifiquem
Tergiverso

sábado, 23 de abril de 2011

Imponderável, Apodera-te

Decepciono-me
De ti afasto-me

Não sei perdoar
Averiguar
Averiguei

Quimeras trarão-me teu rosto
Envolto em turvas nuvens
De outrora

Risonho
Incompleto
Incerto

O que te faltava?

Plenitude
Estive ao teu lado

Pensei-me a ti suficiente














Espessas camadas do inescrutável

Queria amargurar-me

Juras
Juradas
Ultrajadas

Dúvida
Insegurança
Desconfiança

Julgares
Julgares
Julgares

Imponderável
Apodera-te depressa

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Deriva

Amores burilados em profundidade
Descuidados
Naufragam

Imensos inebriáveis
Naufragam

Eternos imortais
Naufragam

À deriva

segunda-feira, 28 de março de 2011

Vasculhos mentais

Olá, leitores!

Sei que o combinado é uma postagem semanal - e ainda que seja de um poema.
Pois é, rememorando os conceitos poéticos de poesia, lembrei de uma poesia dadaísta que criei e da qual muito me orgulho.
É extremamente visual.
Apreciem-na: